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Que tal jogar com algumas das complexidades em torno do uso e
comércio de drogas para pensar em novas alternativas políticas? Este ano, juntamente com um grupo de pesquisadores da Universidade de Utrecht, conseguimos um pequeno financiamento para explorar as possibilidades de desenhar um jogo que possa trazer conscientização sobre políticas de drogas e redução de danos. Estaremos conversando com atores do campo das políticas de drogas para pensar sobre as situações relacionadas às drogas que estes enfrentam diariamente, e então analisaremos o processo de como modelar essas complexidades em um jogo. Pense, por exemplo, em uma pessoa que usa drogas a que precisa decidir se quer comprar drogas online ou de um traficante conhecido, por telefone. Ou um político que se pergunta sobre como a regulação de uma substância afetaria seus produtores, o mercado de drogas e o uso de drogas da população. Como traduzir essas experiências em um jogo? Nessa pesquisa inicial nosso foco será aprender com o processo de desenvolvimento de um jogo que conta com a participação da comunidade. Isso é o que os pesquisadores de jogos chamam de “design de jogos colaborativos”. Buscaremos formas de modelar essas experiências vividas, complementando-as com dados já disponíveis, formando um processo iterativo e experimental de design de jogos. Com isso, esperamos encontrar maneiras de melhorar o desenvolvimento de jogos que simulam situações complexas – como uso de drogas e comércio – para fins de aprendizagem e conscientização.
Nosso grupo transdisciplinar une pesquisadores vindos da história, criminologia, neurobiologia, ciências da computação, farmacêutica, pesquisa de jogos e psicologia, além de uma organização sem fins lucrativos que trabalha com redução de danos. Um desafio é entender a linguagem disciplinar e o raciocínio de cada uma das diferentes áreas; um sério desafio é combinar essas diferentes abordagens no processo de desenhar um jogo de maneira colaborativa! Até agora, a jornada tem sido ótima. E ela só começou. O projeto terá a duração de nove meses e estou feliz de poder acompanhar cada passo.
Aqui você pode ver algumas das minhas primeiras descobertas nesta jornada de jogos. Atenção: estes são para aqueles que, como eu, ainda são iniciantes no mundo-gaming. Siga os links para mais diversão ?
Primeiro: há muito mais jogos do que quando eu joguei pela última vez o come-come com meu Odyssey ou Prince of Persia em um computador com MS-DOS. E hoje em dia, os jogos parecem-se muito mais com filmes e até têm trailers cinematográficos!
Segundo: Além dos jogos comerciais, há um espaço crescente para os “jogos sérios”, ou serious gaming: jogos relacionados à educação, treinamento de profissionais e conscientização. É nesta última categoria que o nosso projeto se encontra. Existem vários exemplos interessantes de jogos sérios, incluindo aqueles focados em saúde, diversidade, jogos feitos para levantar fundos para causas sócio-políticas e jogos para contribuir significativamente para mudanças sociais.
Terceiro: Entrar no mundo dos jogos nao comerciais significa entrar em um novo mundo! Há os game-jams (inspirados em jam sessions de música), plataformas online para design de jogos colaborativos e design de jogos experimentais. Uma considerável produção de conhecimento sobre tudo isso e muito mais acontece no Centro de Pesquisa de Jogos de Utrecht.
Quarto: Participar do processo de desenvolvimento de um jogo pode ajudar as pessoas a entender e a modificar seu ambiente social. Trata-se de assumir não apenas a perspectiva do jogador, mas também a de designer do jogo. Você não tenta apenas “dominar” um jogo para “vencer”, mas para entendê-lo em termos de suas possibilidades e possíveis alternativas de “escolhas de design” – por exemplo, como seria se mudassem as regras do jogo, as caracteristicas dos personagens ou o objetivo final do jogo. Nesse sentido, o desenho analítico de um jogo (o que vamos fazer) é uma metodologia para traduzir a criação de jogos para o domínio educacional e, potencialmente, para a consciência política e participação.
Quinto: há um monte de jogos relacionados a drogas por aí! É interessante ver como esses jogos comunicam estereótipos culturais, dependendo do que é considerado um bom ou mau comportamento ou o que é esperado como resultado final para vencer o jogo. Abaixo você encontra uma lista de jogos:
- Just say no! Como você pode imaginar, endossado pelo National Just Say No! Fundação. Os jogadores respondem perguntas como “Como você diria Não se alguém tentasse lhe dar uma pílula?”.
- Don’t play with drugs. Os jogadores se revezam tentando fazer os outros a usar drogas enquanto tentam se manter limpos.
- Downward spiral. Os jogadores enfrentam problemas relacionados à família, saúde, amizades, finanças e auto-estima. Eles se esforçam para sobreviver sem perder todos os recursos sociais e financeiros devido ao abuso de substâncias.
- Crack Hore. Paciência dice jogo onde o jogador se envolve no personagem de uma prostituta tentando escapar da vida de rua. Cafetões, drogas, doenças e maus encontros são desafios a serem superados.
- Drug recovery game. Os jogadores passam pela jornada de abandonar uma substância. Os cartões “Recovery” e “Trigger” apresentam situações que podem desencadear uma recaída ou levar a uma mudança positiva no comportamento.
- After Pablo. Cada jogador controla um cartel e deve estabelecer liderança e controle do mercado de drogas. O cartel com o maior controle do preencherá a lacuna deixada pela morte de Escobar.
- Abismo Andino. Os jogadores usam quatro facções (FARC, governo, cartéis, AUC) para influenciar os assuntos colombianos e alcançar objetivos diferentes.
- Drugopoly. Como um monopoly (banco imobiliário) sobre drogas. O objetivo é controlar a maioria das substâncias usando seus revendedores.
- Contrabando. O objetivo dos jogadores é tornarem-se os mais ricos comprando plantas domésticas ou cultivadas no exterior e contrabandeando-as para os Estados Unidos ou Canadá.
Você já jogou algum desses? Ou talvez você saiba de outros jogos relacionados a drogas mais interessantes (e mais modernos)? Deixe seu recado aí embaixo!