Redução de Danos para Estimulantes

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O uso de drogas estimulantes está crescendo em diferentes partes do mundo. Em 2018, o World Drug Report mostrou que as substâncias do tipo anfetamina (ATS) são a segunda droga ilícita mais comumente usada - depois da maconha - com um número estimado de 34,2 milhões de usuários no ano passado. As ATS são usadas principalmente na América do Norte e Oceania, mas seu uso aumentou bastante em muitos países do leste e sudeste da Ásia. A cocaína tinha uma estimativa de 18,2 milhões de usuários no ano passado em todo o mundo, e seu uso também está aumentando em algumas partes do mundo, como na Europa. Na América Latina, América do Norte e Caribe, a cocaína tem uma presença duradoura, e ainda é a principal droga que causa preocupação (na forma do crack), depois da cannabis. Além disso, muitas das Novas Substâncias Psicoativas também são estimulantes, mas sintéticos.


Na maior parte do mundo, no entanto, varios serviços de redução de danos concentram-se predominantemente nas pessoas que injetam opioides. As pessoas que usam estimulantes, e especialmente aquelas que não injetam suas drogas, têm acesso limitado à redução de danos e outros serviços. Muitos têm danos e problemas diferentes relacionados à saúde e não se identificam com o uso (problemático) de opioides. Eles também costumam pertencer a outras redes (sociais) de pessoas que usam drogas e podem perceber os serviços de redução de danos como irrelevantes ou inacessíveis para eles. Muitos programas de redução lutam para oferecer atendimento às pessoas que usam estimulantes. Esses programas sentem que não têm conhecimento suficiente sobre estimulantes ou têm dificuldades em obter financiamento para intervenções que não estão relacionadas à troca de seringas ou ao tratamento de substituição de opiáceos.
Existe a necessidade de saber o que funciona para reduzir os danos causados ​​pelo uso de estimulantes. É por isso que, entre 2017 e 2018, produzimos um relatório dedicado ao mapeamento de intervenções de redução de danos para o uso de estimulantes, baseadas em evidências. “Limites da correria”, nosso estudo, concentrou-se em intervenções para o uso problemático de estimulantes, principalmente relacionadas à metanfetamina e cocaínas fumadas (crack, pasta base). Nós produzimos:



  • Revisão de literatura

    Uma revisão da literatura sobre intervenções eficazes na redução de danos para pessoas que usam estimulantes

  • Descrição de boas práticas

    A descrição de sete casos de boas práticas de redução de danos para pessoas que usam estimulantes em diferentes regiões do mundo

Na revisão de literatura, agrupamos as evidências disponíveis em 12 tipos de intervenções que, segundo estudos, mostraram-se eficazes na redução dos danos ao uso de estimulantes. Aqui estão as 12 intervenções:

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Kits para fumar com mais segurança , por exemplo, ajudam as pessoas a ter práticas de uso mais seguras; diminuir o uso injetável; diminuir / interromper o uso de cachimbos caseiros mais danosos à saúde; reduzir queimaduras na boca e garganta; e reduzir danos aos pulmões.

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O uso de maconha (substituição à base de plantas ) ajuda algumas pessoas a diminuir a ansiedade, a agressão e a paranoia no uso de crack. Também os ajuda a reduzir a fissura, estimular o apetite e promover o sono.


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Melhorar as estratégias de auto-regulação permite que as pessoas estejam cientes e usem cada vez mais suas próprias estratégias de autocuidado. Também ajuda a lidar com as emoções sem recorrer ao uso problemático de drogas.


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Salas de consumo de drogas ajudam as pessoas a ter um ambiente seguro para o uso de substâncias; a acessar equipamentos estéreis (como kits para fumar com maior segurança); acessar serviços sociais e de saúde; prevenir overdoses, adotar práticas mais seguras de uso de drogas e impedir a transmissão de doenças infecciosas.


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Intervenções terapêuticas simples (relacionadas à saúde mental) podem ajudar pessoas que usam estimulantes e que sofrem de pensamentos paranoicos, ansiedade, alucinações ou abstinência. Eles também ajudam a identificar problemas e a se comprometer com mudanças, criar uma rede de apoio e gerenciar o uso de drogas.


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Oferecer às pessoas um lugar seguro para se estar durante o dia nos centros de acolhimento ou convivência , ajuda-as a melhorar o bem-estar, a saúde (mental), a integração social, bem como reduzir o uso de drogas e a troca de sexo por drogas.


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O fornecimento de moradia às pessoas ( moradia primeiro ) reduz sua exposição ao uso de drogas; diminui o uso; aumenta a adesão ao tratamento e a autonomia; e ajuda a desenvolver padrões saudáveis ​​de sono / alimentação.


Você pode se deliciar com muitas informações sobre essas e as outras cinco intervenções em nosso relatório completo ou dar uma olhada no nosso resumo executivo (inglês somente).


Você está se perguntando como essas intervenções funcionariam na prática? Nós também estávamos! Selecionamos sete projetos de redução de danos em diferentes regiões do mundo, abordando várias intervenções e os descrevemos em nosso estudo como casos de boas práticas. Entramos em contato com mais de 50 projetos diferentes em cerca de 30 países! Foi uma tarefa difícil escolher apenas sete. Queríamos aqueles com relativamente mais evidências sobre a eficácia, sustentabilidade e custo-benefício. Também consideramos a viabilidade de replicar os projetos e até que ponto eles foram reconhecidos como uma boa prática em sua região entre profissionais e pessoas que usam drogas. Finalmente, selecionamos sete casos:
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  • Atitude

    Oferecendo moradia primeiro, centros de acolhimento, abrigo e trabalho de campo para as pessoas que usam crack no Brasil;

  • Grupos de Contemplação

    Melhorando estratégias de auto-regulação para pessoas que usam metanfetamina na África do Sul;

  • Salas de Consumo de Substâncias

    Oferecendo assistência às pessoas que usam crack na Holanda;

  • Karisma

    Oferecendo trabalho de campo às pessoas que usam metanfetamina na Indonésia;

  • El Achique

    Um centro de convivência para pessoas que usam pasta de base de cocaína no Uruguai;

  • COUNTERfit

    Um programa de múltiplos serviços que distribui kits para fumar com mais segurança para pessoas que usam metanfetamina e / ou crack no Canadá, e

  • Chem-Safe

    Uma intervenção on-line para pessoas que usam estimulantes enquanto praticam chemsex na Espanha.

Em cada lugar, conversamos com funcionários e usuários do serviço. Foi lindo aprender mais sobre essas práticas incríveis! Resumindo, o que aprendemos nos estudos de caso é que a redução de danos para pessoas que usam estimulantes deve considerar:
  • Abordar o uso de múltiplas drogas
  • Fornecer serviços de baixa exigência
  • Foco no acolhimento
  • Promover autocuidado e auto-controle
  • Abordar a exclusão social
  • Fornecer moradia estável e fontes de geração de renda
  • Envolver significativamente as pessoas que usam drogas
  • Fornecer informações baseadas em evidência e não sensacionalistas
  • Promover sono e nutrição
  • Integrar serviços
  • Fornecer cuidados em saúde mental
  • Trabalhar com um conceito de redução de danos ampliada
Em nosso relatório, você pode descobrir como os programas funcionam, como eles contribuem para reduzir os danos às pessoas a quem assistem e quais desafios ainda enfrentam. Dê uma olhadinha e inspire-se!

Precisamos de redução de danos específica para drogas estimulantes?

SIM, PRECISAMOS! Mas não precisamos reinventar a roda. Em grande medida, a redução de danos para pessoas que usam estimulantes segue os mesmos princípios fundamentais que para outras substâncias. Os serviços de redução de danos excelentes começam fornecendo atividades de baixa exigência, encontrando as pessoas onde elas estão, fornecendo informações e materiais com base nas necessidades das pessoas, fornecendo trabalho de campo para aqueles que não desejam ou não podem visitar sites fixos, envolvendo pessoas que usam drogas como membros da equipe e garantindo que as pessoas tenham acesso a outros serviços relevantes. Além disso, o uso de drogas acontece em um contexto, e precisamos abordar as condições socioeconômicas e legais em que as pessoas que usam estimulantes vivem. Isso inclui abordar o desemprego, pobreza, falta de moradia, violência, moradia instável, encarceramento, impurezas das drogas, (falta de) serviços de redução de danos, legislação sobre drogas que criminaliza o uso de drogas, práticas policiais e políticas públicas.

Especificamente com relação aos estimulantes, algumas intervenções são essenciais. Elas geralmente estão relacionadas à privação do sono resultante do uso prolongado - particularmente problemas de saúde mental (agudos), como paranoia, alucinações e ansiedade. Abordar essas questões e prestar assistência à saúde mental é essencial. Outras intervenções específicas incluem estimular o sexo seguro, um padrão de sono saudável e dietas saudáveis, prevenir a desidratação, cuidar da higiene geral e dentária e promover formas mais seguras de fumar.

Recebemos muito feedback positivo sobre o nosso trabalho. Muitos programas estão usando os resultados do estudo para conseguir financiamento para mais ações. Alguns dos casos de boas práticas que descrevemos agora estão sendo ampliados ou replicados em outros países. O trabalho da Karisma, por exemplo, se expandiu para outras cidades da Indonésia, e novos grupos de contemplação estão começando no Vietnã. Fomos convidados a apresentar o estudo em vários países (veja o mapa abaixo), e nosso relatório agora está traduzido para o português!

Temos um bolso cheio de idéias para desenvolver novas pesquisas e práticas relacionadas à redução de danos aos estimulantes. Se você tem alguma idéia ou comentário que gostaria de compartilhar, traga-os!

* Ficha técnica (ou quem somos):

  • Equipe de pesquisa: Rafaela Rigoni (eu, como líder de pesquisa), Joost Breeksema & Sara Woods.
    Organização: Mainline
    Período: Setembro 2017 – Junho 2018
    Responsável pela tradução em português: Escola Livre de Redução de Danos

  • Financiador do estudo original: GPDPD (Global Partnership for Drug Policy and Development) program, implemented by GIZ on behalf of the German Federal Ministry for Economic Cooperation and Development.

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